lundi 11 novembre 2013

O matadouro invisível - texte de José Martins

É UMA PENA!

É uma pena que na língua portuguesa a palavra para fazer teatro seja representar. É uma pena que não seja a mesma que jogar ou brincar – como acontece nas línguas francesa e inglesa. É que a proposta que Karin Serres nos faz neste seu O matadouro invisível é mesmo essa: quatro pessoas que regressam ao local onde já representaram há muitos anos e onde agora brincam. E jogam
Brincam num espaço que já foi realmente matadouro (na peça mas também na realidade) depois transformado em teatro (na peça mas também na realidade) e que agora é um local abandonado à espera de ser demolido para ali se construir um parque de estacionamento (felizmente que só na peça, mas não na realidade).
A partir de um facto real, concreto e extraordinário – a transformação do matadouro de Olival Basto em Teatro da Malaposta – Karin Serres propõe-nos uma fábula que é também uma meditação profunda e actual sobre o teatro, os actores e a sua circunstância. Este é um texto (e também um espectáculo, claro) de um profundo amor pelo teatro e pelos actores.
Pela segunda vez, Karin cria um texto dramático inspirado em factos e temas portugueses. Antes deste “matadouro invisível” ofereceu-nos “marzia”. Para o criar, Karin inspirou-se no Tejo e nos monstros marinhos que habitam a margem esquerda ali a seguir ao cais do Ginjal. Agora atravessou o rio e deixou-se fascinar por este matadouro feito criadouro. Trata-se, é bom de ver, de um facto culturalmente relevante, e o teatro português fica desde já devedor a esta dramaturga europeia contemporânea.
Tenho a honra e o profundo prazer de ser o encenador destas duas obras. Desta vez acompanhado pela Estrela que esteve comigo aqui na Malaposta há 25 anos atrás, pelo Júlio que trabalhou comigo em Almada e em Viana, pela Chuva com quem nunca trabalhei em teatro mas com quem me cruzei já várias vezes nas outras ficções (as da tv), e pela Luz que aqui se estreia como actriz mas que aprendi a amar e a admirar como uma das nossas vozes mais fascinantes.
É público e notório que há 25 anos estive no centro desta aventura. Depois a vida levou-me para outros locais. É por isso também com muita emoção que vinte e três anos depois aqui regresso para encenar O matadouro invisível.
Quero agradecer aos restantes companheiros desta aventura, nomeadamente ao José Pinto Ribeiro e ao André Teresinha. Obviamente que também ao Manuel Coelho e técnicos da Malaposta. Mas não podia deixar de fazer um profundo agradecimento à Karin e ao Bertrand Couderc, um dos mais destacados iluminadores franceses que, com grande generosidade, aceitou trazer-nos luz ao nosso trabalho.


José Martins, pour le programme du spectacle


© Bertrand Couderc

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