É
UMA PENA!
É
uma pena que na língua portuguesa a palavra para fazer teatro seja representar. É uma pena que não seja a
mesma que jogar ou brincar – como acontece nas línguas
francesa e inglesa. É que a proposta que Karin Serres nos faz neste seu O
matadouro invisível é mesmo essa: quatro pessoas que regressam ao local onde já
representaram há muitos anos e onde agora brincam.
E jogam…
Brincam
num espaço que já foi realmente matadouro (na peça mas também na realidade)
depois transformado em teatro (na peça mas também na realidade) e que agora é
um local abandonado à espera de ser demolido para ali se construir um parque de
estacionamento (felizmente que só na peça, mas não na realidade).
A
partir de um facto real, concreto e extraordinário – a transformação do
matadouro de Olival Basto em Teatro da Malaposta – Karin Serres propõe-nos uma
fábula que é também uma meditação profunda e actual sobre o teatro, os actores
e a sua circunstância. Este é um texto (e também um espectáculo, claro) de um
profundo amor pelo teatro e pelos actores.
Pela
segunda vez, Karin cria um texto dramático inspirado em factos e temas
portugueses. Antes deste “matadouro invisível” ofereceu-nos “marzia”. Para o
criar, Karin inspirou-se no Tejo e nos monstros marinhos que habitam a margem
esquerda ali a seguir ao cais do Ginjal. Agora atravessou o rio e deixou-se
fascinar por este matadouro feito criadouro. Trata-se, é bom de ver, de um
facto culturalmente relevante, e o teatro português fica desde já devedor a
esta dramaturga europeia contemporânea.
Tenho
a honra e o profundo prazer de ser o encenador destas duas obras. Desta vez
acompanhado pela Estrela que esteve
comigo aqui na Malaposta há 25 anos atrás, pelo Júlio que trabalhou comigo em Almada e em Viana, pela Chuva com quem nunca trabalhei em
teatro mas com quem me cruzei já várias vezes nas outras ficções (as da tv), e
pela Luz que aqui se estreia como
actriz mas que aprendi a amar e a admirar como uma das nossas vozes mais
fascinantes.
É
público e notório que há 25 anos estive no centro desta aventura. Depois a vida
levou-me para outros locais. É por isso também com muita emoção que vinte e
três anos depois aqui regresso para encenar O matadouro invisível.
Quero
agradecer aos restantes companheiros desta aventura, nomeadamente ao José Pinto
Ribeiro e ao André Teresinha. Obviamente que também ao Manuel Coelho e técnicos
da Malaposta. Mas não podia deixar de fazer um profundo agradecimento à Karin e
ao Bertrand Couderc, um dos mais destacados iluminadores franceses que, com
grande generosidade, aceitou trazer-nos luz ao nosso trabalho.
José
Martins, pour le programme du spectacle
© Bertrand Couderc
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire